“A ciência, o direito, a educação, a informação, a religião e a tradição estão entre os mais importantes espelhos das sociedades contemporâneas. O que eles refletem é o que as sociedades são. Por detrás ou para além deles, não há nada”.
(Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português)
1. COMO É
O grande problema da Educação, o calcanhar de aquiles, foi e sempre será a avaliação. E o que mais tem nos incomodado ultimamente é a forma/maneira como os alunos são avaliados. A prova ainda é critério para reprovar, em muitas escolas e universidades por todo o País. Mas esse instrumento avaliativo deve ser encarado por professores e estudantes como apenas mais um, e não como o mais importante, pois prova é circunstancial, é momento. Não é uma prova que vai aferir se o estudante aprendeu ou não! Mesmo porque o estudante precisa ser avaliado ao longo do processo educacional, através de vários instrumentos, pois isso sim será mais elucidativo de que ele aprendeu.
Depois de tantas leituras e pesquisas que fizemos ao longo dos quatro anos que estudamos História, desses onze anos de magistério e três do Curso de Bacharelado em Direito, percebemos que o processo avaliativo, em muitos casos e situações, acontece ainda sob o foco da punição, da seleção que, ao nosso ver, passa à margem da verdadeira apreensão do conhecimento.
O mais comum, no senso-comum, é tomar a avaliação unicamente como o ato de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alunos. O professor reduz a avaliação à cobrança daquilo que o aluno memorizou e usa a nota somente como instrumento de controle. Ainda nos dias de hoje há professores que se vangloriam por deter o poder de aprovar ou reprovar. Quantas vezes se ouvem afirmações inteiramente falsas sobre o que deve ser um trabalho docente de qualidade, como por exemplo: “O professor X é excelente, reprova mais da metade da classe”, “O ensino naquela escola é muito puxado, poucos alunos conseguem aprovação”. Ao escrever essas linhas, lembro de um filme, baseado em fatos reais, de 2007: “Escritores da Liberdade”. Todo professor deveria ver esse filme! Conta uma história que se passou num colégio dos EUA, onde os alunos eram discriminados por sua classe, sua cor, e divididos em salas de “burros” e “inteligentes”. Então chega uma professora que, junto com os alunos da sua turma, muda a realidade, depois de muitas lutas.
2. COMO DEVE SER
Segundo a maioria dos teóricos da avaliação, tanto internacionais - como Phillippe Perrenoud, Howard Gardner e Emília Ferreiro - quanto nacionais - como Jussara Hoffmann, Cipriano Carlos Luckesi e Dermeval Saviani - a avaliação da aprendizagem não é uma atividade isolada na prática pedagógica, um mecanismo neutro ou uma questão puramente técnica, desprovida de intencionalidade. No entanto, testar e medir ainda estão sendo usados como sinônimo de avaliação. Consideramos que equívocos deste tipo acabam por criar uma “cortina de fumaça”, ou seja, um mito em relação à prática avaliativa. A avaliação não pode adquirir uma conotação ampla e difusa. Segundo o professor Cipriano Carlos Luckesi, a avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino e aprendizagem, que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho.
A avaliação é uma questão epistemológica, mas é também política, por se constituir em um momento privilegiado no qual o poder se manifesta para aprovar ou reprovar, elogiar ou punir o aluno. Claro que isto vai depender de cada professor.
Entendemos que para se compreender a avaliação no interior da escola/universidade, é preciso analisar a relação escola/sociedade. Nesse sentido, são múltiplas, variadas e importantes as contribuições de autores, já citados, que abordaram e ainda abordam essa relação, e que tecem considerações referentes às funções da escola, contribuindo para uma melhor compreensão do ato de avaliar. Nós professores precisamos entender a avaliação como um ato pedagógico, assumindo funções que podem favorecer o desempenho do aluno e o nosso desempenho profissional. Para isso, se faz necessário que a avaliação deixe de ser classificatória e punitiva, e passe a ser diagnóstica, processual e contínua. Segundo Dermeval Saviani "o professor, nesta abordagem, se caracteriza pela garantia de que o conhecimento seja conseguido, independente do interesse e vontade do aluno". Logo, a avaliação é realizada visando à exatidão do conteúdo comunicado em sala de aula, e o aluno é medido pela quantidade de informações que consegue reproduzir através de vários instrumentos, dentre eles testes e provas.
Na abordagem humanista, a avaliação enfatiza o papel do aluno, como principal colaborador do conhecimento humano. Sendo assim, o ensino é centrado no aluno. O professor faz o papel de facilitador da aprendizagem. Já
na abordagem cognitivista, a avaliação tem como fundamentação teórica a abordagem piagetiana, para a qual o conhecimento é considerado uma construção contínua, onde a mudança de comportamento pode configurar a construção de uma nova aprendizagem. A aprendizagem verdadeira só se dá no exercício operacional da inteligência, só se realiza quando o aluno elabora o seu conhecimento.
na abordagem cognitivista, a avaliação tem como fundamentação teórica a abordagem piagetiana, para a qual o conhecimento é considerado uma construção contínua, onde a mudança de comportamento pode configurar a construção de uma nova aprendizagem. A aprendizagem verdadeira só se dá no exercício operacional da inteligência, só se realiza quando o aluno elabora o seu conhecimento.
3. À GUISA DE CONCLUSÃO
Muitos professores por esse Brasil afora precisam repensar suas práticas avaliativas, afinal, o sentido da educação é ensinar a viver melhor, e não priorizar calendário escolar e prazos burocráticos. Nesses anos todos de magistério, aprendemos que a severidade inicial precisa aos poucos ser abrandada e substituída pela doçura do afeto aos alunos. Aprendemos que não precisamos julgá-los, pois a vida, esse ‘bicho-papão’ da cantiga de ninar, não vai esquecer de fazê-lo e que, afinal, só a vida encontra o caminho da própria vida. É preciso que o professor leve em conta que, na formação das pessoas, a humanidade e os valores é o que dão sentido à existência. Nós professores somos verdadeiros heróis, porque dedicamos várias noites da semana a formar com desinteresse os jovens que poderão um dia melhorar nossa lamentável vida pública. E o caminho para essa mudança reside em aprender a melhor viver, a buscar não carreira ou êxito, mas a plenitude da vida, que ajude cada pessoa a realizar sua eminente dignidade. Nesse Brasil em que a corrupção já é uma instituição, precisamos dar lições de vida para aqueles que buscam não só a pureza da doutrina, mas a coerência da prática sem manchas.
Com relação às características da avaliação escolar, citamos a seguir aquelas que consideramos as principais: 1 - Reflete a unidade objetivos-conteúdos-métodos; 2 – Possiblita a revisão do plano de ensino; 3 – Ajuda a desenvolver capacidades e habilidades; 4 – Volta-se para a atividade dos alunos; 5 – é objetiva; 6 – Ajuda na autopercepção do professor; 7 – Reflete valores e expectativas do professor com relação aos alunos.
E para encerrar, uma lição do Prêmio Nobel da Paz de 2006, o professor de Economia Muhammad Yunnus, em A lógica do crescimento sem controle: “Aprender a imaginar em que mundo vamos viver é um tema inexistente em nossas escolas. Preparamos nossos estudantes para uma disciplina ou carreira, mas não os educamos para pensar que tipo de mundo eles desejam construir. Toda escola e universidade deveria criar um curso centrado nesta proposta: pedir a cada aluno que prepare uma lista de seus 'desejos para o mundo' e explique para a classe os motivos de suas escolhas. Outros alunos poderão sustentar suas ideias, propor alternativas melhores ou contestá-las. Então, todos poderão discutir maneiras de criar o mundo que imaginam, o que concretamente é possível fazer, os obstáculos a superar de modo a criar as parcerias, organizações, conceitos, esquemas e planos de ação necessários para promover seus objetivos. Este curso poderá ser muito interessante.”
REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, J.C. A avaliação escolar. In Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
NÉRICI, I.G. Avaliação da Aprendizagem. In Introdução à Didática Geral. São Paulo: Ed. Atlas, 1985.
(Márcio Melo, professor de História, Sociologia e Filosofia no Ensino Médio da rede pública da Bahia há onze anos; professor de História do Brasil na FACESB há dois e estudante de Direito há três. ainda tentando aprender o que é avaliação...)
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