EDUCAÇÃO Estudo faz a análise de 15 publicações do ensino fundamental. Em cinco, o negro é
retratado sem preconceito
Após a constatação da forma estereotipada e desumanizada de mostrar o negro em livros de
língua portuguesa da década de 80, a doutora em educação Ana Célia da Silva investigou a
transformação da forma de representação na década seguinte. O resultado está em A
representação iodai do negro no livro didático: o que mudou? Por que mudou?, que será lançado
amanhã, as 17h, no auditório do Ceafro (Ceao), Largo Dois de julho. A entrada é franca.
Ao analisar 15 publicações do ensino fundamental, a doutora em educação percebeu em cinco
delas, todas da FTD, o negro retratado sem sinais de preconceito. Neles, os personagens têm
status de classe média, em atividades de lazer, interagindo com crianças de outras etnias, com
nome próprio, sem aspecto caricatural, freqüentando a escola, adultos em profissões
diversificadas.
"Os personagens têm roupas, fardas, se abraçam, não são citados como filhos da empregada",
contou a educadora. Nos outros 10 livros, apesar de algumas mudanças, os negros estão
estereotipados, há pouca interação e não vão muito à escola.
A convivência com afrodescendentes, o conhecimento sobre a cultura africana e a aprovação de
leis como a 10.639 foram apontados como fatores determlnantes para a mudança, segundo os
llustradores entrevistados. "Mas as críticas sobre o livro didático, a mídia, a família e as ações do
movimento negro tiveram papel importante", contou a professora.
Porém, quando se fala em quantidade de aparições nas páginas dos livros, a realidade não
mudou. Os negros continuam sendo menos freqüentes. "É senso comum de que ainda somos
minoria. Foram 1.360 ilustrações de brancos contra 151 de negros. Percebo que não é intencional
por parte dos llustradores. É um desafio a ser vencido", afirmou a pesquisadora.
Para a autora, a alteração mais significativa foi a desconstruçáo do estigma da incompetência.
Em uma ilustração do livro Porta de Papel a professora elogia o aluno Fábio depois de um
trabalho. "Tirar a questão de incapacidade do negro é muito importante", disse Ana Célia.
Na obra, tese de doutorado de 2001, a educadora oferece ferramentas para que os professores
aprendam a Identificar os problemas. A partir de uma abordagem critica, o significado sobre
representação social é contextualizado com fatores relacionados ao negro como sua realidade
socioeconõmica e cultural, a discriminação racial, o papel da mídia, da militáncia e da família.
Mestrado
Editora dos cinco livros que apresentaram relevante modificação na forma de tratar o negro, a
FTD, segundo a educadora, não respondeu sobre o pedido de publicação das ilustrações. "Vou
tentar fazer isso na segunda edição. Só enriqueceria meu trabalho".
A obra sobre os livros da década de 80 foi fruto da dissertação de mestrado Discriminação do
negro no livro didático, em 1995. Dando continuidade ao estudo que relaciona questão racial e
educação foi lançado o Desconstruindo a Discriminação do Negro no Ltvro Didático, publicado em
200l.
As atividades da autora na área teve Início desde a criação do GT Educação dentro do Movimento
Negro Unificado (MNU), fundado em Julho de 1978. "O negro era sempre associado com o feio,
sujo, ruim e incompetente. Então havia autorrejelçào e não aceitação do igual por parte dos
alunos, e os professores não assumiam o problema" contou.
A próxima investida da professora do Departamento de Educação da Uneb é desenvolver projeto
'Convivendo com as diferenças', que será baseado na realização de oficinas.
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