Bahia pode adotar critério de Chico César e barrar verba para bandas de “axé de plástico”
"Olha, mulher é igual a lata, um chuta e outro cata, um chuta e outro cata...eu chutei, você
catou". Músicas como esta, que fazem o sucesso de várias bandas de pagode na Bahia, estão na
mira da Assembleia Legislativa. A deputada estadual Luiza Maia (PT-BA) impetrou um projeto na
Casa que prevê a proibição de financiamento público para bandas e artistas que incentivem a
violência e o preconceito contra as mulheres.
A iniciativa da parlamentar bahiana segue os mesmos critérios adotados na Paraíba pelo
secretário de Cultura, Chico César, que barrou apoio com verbas do cofre estadual para bandas
de forró com músicas de letra “pobre”, a qual classificou como “forró de plástico”.
Na Bahia, se o projeto for aprovado, o Governo do Estado e as prefeituras baianas ficarão
proibidos de contratar artistas com repertório que desvalorize ou exponha as mulheres a
constrangimentos. Ela já ganhou o apoio de dez deputadas da Casa e mantém um abaixo-assinado
na internet para pedir apoio ao projeto. “Você não pode estar deixando normalizar, como se
fosse natural a violência, o desrespeito e a desvalorização da mulher”, defende a deputada.
Os músicos não concordam com o projeto lei e argumentam. De acordo com Robson Costa,
vocalista da banda Black Style, tudo não passa de uma brincadeira. "As mulheres interpretam de
uma forma assim, como uma brincadeira, sabe? Zoar uma da outra. É sempre uma brincadeira de
dançar e de coreografar”, acredita.
As letras são consideradas maliciosas e, algumas, carregam duplo sentido. Um exemplo é a letra
letra “Foge, foge, mulher-maravilha. Foge, foge com o superman”, da banda Leva Noiz, eleita a
melhor música do Carnaval de Salvador deste ano.
Para André Ramon, vocalista da LevaNóiz, as músicas transmitem alegria para o público. “A
maldade está na cabeça das pessoa, porque o intuito da gente não é levar maldade para as
pessoas, e sim alegria", defende-se.
A professora Bárbara Souza acredita que tais letras causam um prejuízo à imagem da mulher na
sociedade. “São ofensivas e colocam a mulher em uma condição de objeto”, reflete. Para o
empresário Mário Pereira, o estilo já está arraigado no comportamento dos baianos. “O pagode,
queira ou não queira, é a cultura da Bahia”.
O antropólogo Roberto Albergaria afirma que ‘músicas apimentadas’ são tradições antigas do
país. "Desde o tempo do brasil colônia que a música, os ritmos populares, sempre foram muito
erotizados. O pagode reproduz isso em Salvador da mesma forma que o funk reproduz esse tipo
de sensibilidade no Rio de Janeiro", compara.
Segundo a assessoria de imprensa do artista, o cantor Márcio Victor, da banda Psirico, não quer
comentar o assunto com referência à letra da música "Chupeta".
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