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quarta-feira, 18 de maio de 2011

DÁ UM TOQUE QUE EU RETORNO - COMENTÁRIO

DÁ UM TOQUE QUE EU RETORNO - COMENTÁRIO



Num momento em que conflitos morais estão ressaltados por causa da liberação do casamento gay, nada mais recomendado do que ir assistir ao espetáculo “DÁ UM TOQUE QUE EU RETORNO” no Teatro Raul Seixas, na Av. Sete, sede do sindicato dos Bancários, aos sábados, a partir das 20:00.

A comédia não é homo erótica, mas aborda com bastante escracho os conflitos entre gêneros e diversidade sexuais. No fundo, os antigos conflitos entre aqueles que decidem conviver sobre a mesma cama e sob o mesmo teto, independente da orientação sexual.

Encenado pelo grupo “PORRA MEU BEM’, composto por Rony Ery, Chandra, Taíza, Esdras e Magrão; acompanhado musicalmente por Cláudia, Carlos Alberto e Ian; escrito e dirigido por Reginaldo de Carvalho assistido por Diego, a peça diverte ao mostrar uma falta de pudor e respeito ao que nos acostumamos a chamar de amor. Num diálogo aberto e direto com o público, os personagens se apresentam de forma visceral revelando intimidades inconfessáveis em público, mas que no fundo todos já vivenciaram ou sabem de alguém que as vivenciou. E aí a empatia toma conta do espetáculo.

A começar pelo título, Dá um toque que eu retorno, jargão utilizado pelos usuários de aparelhos celulares que geralmente não têm crédito e abusam desse recurso para se comunicarem com amigos e amantes, a peça se mostra antenada com a contemporaneidade, relatando inclusiva um sonho em que há uma relação amorosa entre uma mulher e uma máquina. Nesta cena, uma hilária metalinguagem ironiza o gosto dos críticos que odeiam fumaça em cenas de flash-back.

Cena a cena os temas são abordados quase que didaticamente acompanhadas de uma excelente trilha sonora executada ao vivo com base na obra de Tom Zé, propagando que o amor é egoísta. As maiorias das cenas cantadas pelo elenco ou o grupo e que terminavam com uma música eram aplaudidas com ênfase, exceto a cena em que todos mostram a bunda para a platéia, teve música, mas faltou um ‘tchan’, de ambos os lados, não das bundas, mas do elenco e da platéia.

Destaque para as cenas “Perebas do amor”, em que é resgatada o clima da Era do Rádio, com o locutor animado e acompanhado por um coro bem afinado, merecia ser mais explorado utilizando outros participantes, pois, apesar da boa dublagem de Vicente Celestino, a cena demorou muito e confesso que cochilei, destoou do furor furuncular do locutor; e a cena da conjugação verbal e hipocondríaca, no tempo certo, levando todos ao clímax da gargalhada.

O autor do texto se utiliza de citações de autores consagrados, como Manuel Bandeira, Gabriel Garcia Marques e autores bíblicos, para reforçar seu discurso em favor do sexo despudorado e sincero repleto de experiências e possibilidades, inclusive prestigiando a terceira idade numa das cenas mais poéticas da peça.

Pois é, o espetáculo não tem só sexo, o amor é apresentado poeticamente numa cena em que o amante escreve no corpo da amada; e em uma cena em que as amantes, literalmente, passam o rodo no ‘macho’ limpando-o das impurezas da mentira.

Ouvi queixas de algumas pessoas na platéia sobre a apelação da nudez dos atores e não concordo. Houve adequação e necessidade da exposição para melhor ilustrar a mensagem e a linguagem do grupo. Os figurinos são práticos e objetivos, servindo de suporte aos adereços e mudanças de personagens. A maquiagem tem um clima exótico e ressalta os olhos num clima oriental. O cenário é simples, um alambrado com alguns recortes em branco, chapado, alguns acessórios e manequins compondo o espaço com uma escada no centro ao fundo, todos elementos são bem utilizados.

O elenco é afinado e demonstra intimidade e segurança no palco, apesar de ser a estréia em Salvador - o grupo já apresentou o espetáculo nas cidades de Paulo Afonso e Senhor do Bonfim – foram poucos os momentos de nervosismo e ‘falhas’, como o ‘emolduramento’ de um dos personagens na cena inicial e dois tropeços verbais no decorrer de uma hora de apresentação. São todos acadêmicos mas fizeram questão de utilizar a linguagem popular sem amarras teóricas, influenciados por trabalhos circenses, de rua e uma herança genética no drama de circo por parte do autor e diretor.

O ponto negativo ficou por conta do espaço. O palco muito baixo, a sala com piso plano e cadeiras comuns, impedia os espectadores que estavam a partir da terceira fila de visualizarem completamente as cenas. Outro detalhe negativo foi a tentativa de exibição de vídeos como plano de fundo que não funcionaram por causa da falta de escuridão total no espaço e poucos recortes em branco no fundo do cenário. Pretendo assistir novamente quando o espetáculo mudar de casa.

Jotacê Freitas – poeta e professor.

Salvador, 9 de maio de 2011.

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