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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Antropólogo Luiz Eduardo Soares fala do diálogo entre o livro 'Elite da tropa 2' e o filme 'Tropa de elite 2'


O tráfico já era
Luiz Eduardo Soares / Ana BrancoRIO - A janela da sala emoldura a Rocinha. E as paredes são forradas de livros. O antropólogo Luiz Eduardo Soares tira da estante obras simbólicas do jornalismo de guerra: "Despachos do front", de Michael Herr, e "O gosto da guerra", de José Hamilton Ribeiro. Ele diz adorar os livros que narram, usando a técnica do jornalismo literário, histórias de violação dos direitos humanos, de tragédias sociais. E escrever obras assim virou seu lema.
- A cultura pode se comunicar com a realidade social e política numa pulsação surpreendente - comenta. - A população se emociona. Em função dessa emoção os agentes políticos intervêm.
Professor, cientista político e ex-coordenador de segurança do governo Garotinho, Luiz Eduardo acaba de lançar - no mesmo dia em que "Tropa de elite 2" chegou aos cinemas - "Elite da tropa 2", escrito com os policiais André Batista e Rodrigo Pimentel e com o delegado Cláudio Ferraz. Segundo ele, um dos autores também do primeiro "Elite da tropa", o livro não é o filme. Mas também vai causar barulho, ao mergulhar no barrento rio das milícias, que considera "o pior tipo de crime organizado".
"Tropa de elite 2" já levou aos cinemas mais de quatro milhões de pessoas. A expectativa é que chegue a seis milhões até o final de semana, igualando-se ao recordista da retomada, "Se eu fosse você 2", de 2009. Em entrevista ao O GLOBO, Luiz Eduardo explica porque filme e livro vão além do entretenimento. E decreta:
- O tráfico já era.
Qual é a relação entre "Tropa de elite 2" e "Elite da tropa 2"? Quem nasceu primeiro?
LUIZ EDUARDO SOARES: Os dois trabalhos foram feitos simultaneamente, em diálogo. O diálogo pressupõe autonomia, com similitudes e diferenças. Alguns personagens são comuns, algumas tramas são compartilhadas. Mas tem muita coisa diferente.
Como surgiu a ideia do livro?                               
Só decidimos fazer o livro quando o Cláudio Ferraz entrou no projeto. Ele é o delegado titular da Draco, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado. E conhece profundamente a atuação das milícias no Rio. Sem ele não seria possível.


Você já tinha familiaridade com a atuação das milícias?
Antes de começar o trabalho, eu já identificava as milícias como a maior ameaça ao Estado democrático e de direito, o pior tipo de crime organizado, porque envolve polícia e política: policiais corruptos protagonistas da ação criminosa que atuam diretamente no Legislativo. O "Elite da tropa 2", porém, não se reduz a contar essa história. Os elementos fundamentais da atuação da milícia estão expostos, é o centro, mas trabalhamos muito as questões subjetivas, afetivas, morais dos personagens policiais.
O livro não narra a história cronológica das milícias no Rio. Foi uma estratégia?
A gente evitou justamente a aproximação com um relatório, uma pesquisa. Nossa ideia foi pegar o leitor pela mão e levá-lo para o coração do redemoinho, para que cada um se sinta diretamente concernido, co-responsável pela busca de saídas.
" Nossa idéia foi pegar o leitor pela mão e levá-lo para o coração do redemoinho "
Você considera as milícias um problema maior do que o tráfico de drogas?
Começamos o livro assim: "Acorde. O tráfico já era. A milícia é uma realidade que se impõe. E é a grande ameaça à segurança pública."
Mas o tráfico também é uma grande ameaça à segurança pública...
Os traficantes são muito jovens, pobres, nunca saíram da favela, não têm formação profissional, não têm capacidade administrativa, não têm visão de futuro, não têm projeto político... Os milicianos são homens de 30, 40 anos, geralmente policiais, profissionais formados, treinados, com conhecimento técnico, com capacidade administrativa e financeira, que se organizam para ocupar espaços políticos na Câmara Estadual e Câmara Federal.
Porque você diz que "o tráfico já era"?
As milícias são muito mais lucrativas. O tráfico é um negócio específico, com nicho de mercado. E as milícias trabalham com todas as possibilidades que a economia local oferece. Trabalham também eventualmente com drogas. Existe a idéia de que milicianos matam os traficantes e libertam as comunidades. Mentira. Eles preferem lugares abandonados. E fazem acordos quando o tráfico local é frágil. Os traficantes até trabalham para os milicianos.
Você poderia contar alguma passagem do livro, algum caso específico que ilustre a atuação da milícia?
Tem uma história sobre um conjunto habitacional da Caixa Econômica Federal. Do ponto de vista do banco, os apartamentos foram ocupados ilegalmente. Só que as pessoas compraram seus apartamentos e pagaram aos milicianos. E a milícia, não satisfeita, cobra taxas para o funcionamento do condomínio, explora o transporte, os serviços, tudo. E ainda criou uma associação de moradores para lutar contra o banco. É surreal.

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