Diário Oficial Legislativo | |
O lançamento do documentário Ser Quilombola aconteceu na manhã de ontem, no Saguão Nestor Duarte, na Assembleia Legislativa. Uma iniciativa do deputado e presidente da Comissão de Promoção da Igualdade, Bira Corôa (PT), que trouxe uma reflexão sobre o racismo e as comunidades remanescentes de quilombos para todos os presentes. "Esta obra é mais um instrumento de combate e enfrentamento no reconhecimento dessas comunidades. Uma busca pela valorização e ressurgimento da autoestima da população quilombola", declara Bira.
Junto com membros das comunidades quilombolas de São Francisco do Paraguaçu, em Cachoeira, e Porteiras, em Entre Rios, parlamentares e sociedade civil, também prestigiaram o evento o superintendente da promoção da igualdade do município de Lauro de Freitas, Menezes, o representante do Coletivo de Entidades Negras, Ademir, e André Santana, do Instituto Mídia Étnica. Além de Jocélia, da Omi Dudu, Valter Altino, do Atitude Quilombola e Maurício Ramos, militante da campanha "Desembargadora, sim! Por que não?", entre outras representações do movimento negro baiano.
O vídeo, que foi produzido para ser um trabalho de conclusão de curso dos estudantes de jornalismo Jaqueline Barreto, Midiã Santana e Deraldo Leal, deve assumir mais do que a função acadêmica, de acordo com a vontade dos seus idealizadores. "Além do uso pedagógico em escolas, universidades, este material deve servir para fortalecer a identidade quilombola na garantia de políticas públicas", almeja Jaqueline, reforçando que este projeto foi elaboração de uma equipe que acredita num jornalismo intrinsecamente ligado à utilidade pública.
Essa luta pela educação antirracismo, pela difusão de conhecimento que liberta os cidadãos de padrões históricos de ignorância e de estímulos ao desrespeito e intolerância em relação à identidade do outro é comungada pelas professoras Iramayre Reis e Dinalva Macedo, docentes da Uneb – Alagoinhas e Guanambi, respectivamente –, que agradeceram a conquista de mais uma qualificada ferramenta de ensino. Também reconhecendo a relevância do material produzido, os deputados Maria del Carmen (PT) e Yulo Oiticica (PT) parabenizaram os produtores e o colega proponente do lançamento. "Ainda temos muito a percorrer para a desconstrução desse racismo. Mas conseguiremos, pois somos a mais bela expressão da diáspora africana e temos muito orgulho dessa descendência", afirma Oiticica.
A exibição explícita de orgulho por participar do ato de lançamento e do filme que foram protagonistas foi evidenciada nos olhos e fala dos membros quilombolas. "Isso é maravilhoso, pois trouxe a gente para a Assembleia para dizermos a todos que temos orgulho de ser quilombola", disse Gonçalo da Paixão, da comunidade de Porteira. "Estou muito agradecida de ser apresentada como quilombola", completa Fidelina, que tem o rosto exibido em destaque na capa da obra.
Documentário
Em síntese, Ser Quilombola traz uma abordagem aprofundada sobre os aspectos que constituem a identidade das comunidades descendentes dos quilombos. Para tanto, mergulhou nas realidades das comunidades de São Francisco do Paraguaçu, município de Cachoeira e a comunidade de Porteira, em Entre Rios, Recôncavo baiano. Assim, foi possível fazer uma leitura sem folclore ou estigmas, discutindo a identidade quilombola a partir de elementos como a sua relação com a terra, racismo, tradição e modernidade, entre outros.
Em meio à espontânea expressão de pessoas comuns que exaltam a sua condição de quilombola ou negam essa realidade, os historiadores Ubiratan Castro, professor da Ufba, e João José Reis, a socióloga e professora da Ufba Lídia Cardel, a representante da Fundação Cultural Palmares, Luciana Mota, e Walter Altino, sociólogo e representante do movimento negro, vão discorrendo com propriedade sobre os diversos aspectos que permeiam a cultura quilombola e a sua relação com a sociedade atual.
Dotado de plástica e conteúdo, o documentário visa a explicitar a situação dessas comunidades, estimular a adoção de políticas favoráveis a essas pessoas e reavivar o orgulho por suas origens e descendência, ao poder aferir que a condição de se reconhecer quilombola não resultará em preconceito ou exclusão social. Assim, a pichação exibida numa passagem do filme se sobreporá a todas as demais manifestações contrárias: "Sei o que é, por isso sou quilombola."
Nenhum comentário:
Postar um comentário