A Tarde | |
Jussilene Santana - Atriz e jornalista
0 jornalismo na Bahia comemorou seu bicentenário no dia 14 de maio. Enquanto a área aguarda quem proponha uma interpretação sobre a história dos 200 anos da atividade no estado, o presente texto - apesar de evidentes e concretos limites - ousa uma mirada panorâmica sobre como o tema teatro tendeu a ser abordado pelos periódicos locais.
A 'primeira gazeta'da Bahia, a Idade d'Ouro do Brazil, nasceu em 1811 para defender a fidelidade da colônia a Portugal. Nas quatrofolhasdo Ia número, o teatro não foi notícia. A Idade d'Ouro deixou de ser publicada em 1823, depois da Independência do Brasil, dias antes da Independência da Bahia, posto que a razão política do panfleto havia deixado de existir.
E é uma 'razão política' similar o que moveu o jornalismo baiano, geração após geração, criando veículos para atuarem como instrumento - a maioria das vezes de face polrtico-partidária - na arena política. Também em 200 anos, sobretudo os diários pertenceram quase que exclusivamente a diferentes grupos políticos e econômicos que formavam a elite social, atuando primordialmente para defender tais interesses.
Nessa atmosfera, o teatro tendeu a ser aproveitado como mais um tema possível de ser cultivado/mantido politicamente; pouquíssimas vezes, compreendido em sua originalidade. Logo após o lançamento da Idade d'Ouro, é inaugurado, em 1812, o Teatro São João, palco central da representação dos valores culturais, estéticos e políticos da elite baiana durante o século XIX e inído do XX. Ele foi o 'centro das letras dramáticas' praticamente portado Império e I República até quando, em 1923, foi destruído por um incêndio. 0 São João, suas atividades e freqüentadores foram os principais assuntos teatrais da imprensa baiana por todo o período.
Impacto
Entre 1910/1940, o teatro na Bahia acusa o impacto da transformação do cinema e do rádio em atividades basilares da sociabilidade e do entretenimento. A mudança de foco é sentida nos jomais e revistas. Após a II Guerra, os eventos intermitentes de grupos amadores de diferentes perfis são os principais motivadores de notícias, geralmente exploradas no formato de nota e crônica e que podiam ou não ser enquadradas em colunas.
Tal situação se mantém de forma praticamente inalterada até meados dos anos 1950, nos dnco diários impressos existentes, quando há a criação da Escola de Teatro, instituição partiapante das ações culturais modemizadoras promovidas/amparadas, sobretudo pela então Universidade da Bahia.
No final dos anos 1950 e anos 1960 tanto o exercido do teatro quanto do jornalismo passam por profundas mudanças. A diversificada atuação da Escola de Teatro, sob a direção de Martim Gonçalves (1956-1961), promovendo sistematicamente a pedagogia e a prática do teatro moderno, favorece, pela primeira vez no estado, o esboço de um caminho para a área do teatro como um 'campo autônomo'artistico e profissional, propondo que tal campo não mais preasaria estar - mesmo quando aproveitando as possibilidades de interface - a reboque das necessidades estabelecidas para ele em outras áreas.
A batalha para o fortalecimento do teatro como 'um campo'também é exercida nos jornais, através de textos dos suplementos culturais, sobretudo do Diário de Notícias e Jornal da Bahia. Por conta da intensa movimentação teatral, são criadas novas colunas, publicadas mais entrevistas e matérias.
Articulador central da ação, Martim tem, no início, apoio dos jornais, mas, à medida que se evidencia onde tal autonomia e capacidade crítica poderiam chegar, passa a ser atacado, sobretudo por campanhas jornalísticas que pedem e conseguem seu afastamento do estado. A mutilação de inúmeros fatos que compõem esse complexo episódio e o silencia-merrto sobre o sucesso de Martim ao sair da Bahia afetaram profundamente a mentalidade da área teatral baiana.
Assinale-se ainda certo fervor sobre teatro nos anos 1960/1970, em revistas e nas TVs recém-criadas. Nos 1990, uma nova onda de profissionalização (ligada de forma trun-cada e mal compreendendo aquela primeira) promove duas especializações que colaboram para movimentar a cena: o produtor e o assessor de imprensa. No novo milênio, o tema teatro na Bahia procura fazer as pazes com o passado enquanto trafega pela internet.
0 jornalismo na Bahia comemorou seu bicentenário no dia 14 de maio. Enquanto a área aguarda quem proponha uma interpretação sobre a história dos 200 anos da atividade no estado, o presente texto - apesar de evidentes e concretos limites - ousa uma mirada panorâmica sobre como o tema teatro tendeu a ser abordado pelos periódicos locais.
A 'primeira gazeta'da Bahia, a Idade d'Ouro do Brazil, nasceu em 1811 para defender a fidelidade da colônia a Portugal. Nas quatrofolhasdo Ia número, o teatro não foi notícia. A Idade d'Ouro deixou de ser publicada em 1823, depois da Independência do Brasil, dias antes da Independência da Bahia, posto que a razão política do panfleto havia deixado de existir.
E é uma 'razão política' similar o que moveu o jornalismo baiano, geração após geração, criando veículos para atuarem como instrumento - a maioria das vezes de face polrtico-partidária - na arena política. Também em 200 anos, sobretudo os diários pertenceram quase que exclusivamente a diferentes grupos políticos e econômicos que formavam a elite social, atuando primordialmente para defender tais interesses.
Nessa atmosfera, o teatro tendeu a ser aproveitado como mais um tema possível de ser cultivado/mantido politicamente; pouquíssimas vezes, compreendido em sua originalidade. Logo após o lançamento da Idade d'Ouro, é inaugurado, em 1812, o Teatro São João, palco central da representação dos valores culturais, estéticos e políticos da elite baiana durante o século XIX e inído do XX. Ele foi o 'centro das letras dramáticas' praticamente portado Império e I República até quando, em 1923, foi destruído por um incêndio. 0 São João, suas atividades e freqüentadores foram os principais assuntos teatrais da imprensa baiana por todo o período.
Impacto
Entre 1910/1940, o teatro na Bahia acusa o impacto da transformação do cinema e do rádio em atividades basilares da sociabilidade e do entretenimento. A mudança de foco é sentida nos jomais e revistas. Após a II Guerra, os eventos intermitentes de grupos amadores de diferentes perfis são os principais motivadores de notícias, geralmente exploradas no formato de nota e crônica e que podiam ou não ser enquadradas em colunas.
Tal situação se mantém de forma praticamente inalterada até meados dos anos 1950, nos dnco diários impressos existentes, quando há a criação da Escola de Teatro, instituição partiapante das ações culturais modemizadoras promovidas/amparadas, sobretudo pela então Universidade da Bahia.
No final dos anos 1950 e anos 1960 tanto o exercido do teatro quanto do jornalismo passam por profundas mudanças. A diversificada atuação da Escola de Teatro, sob a direção de Martim Gonçalves (1956-1961), promovendo sistematicamente a pedagogia e a prática do teatro moderno, favorece, pela primeira vez no estado, o esboço de um caminho para a área do teatro como um 'campo autônomo'artistico e profissional, propondo que tal campo não mais preasaria estar - mesmo quando aproveitando as possibilidades de interface - a reboque das necessidades estabelecidas para ele em outras áreas.
A batalha para o fortalecimento do teatro como 'um campo'também é exercida nos jornais, através de textos dos suplementos culturais, sobretudo do Diário de Notícias e Jornal da Bahia. Por conta da intensa movimentação teatral, são criadas novas colunas, publicadas mais entrevistas e matérias.
Articulador central da ação, Martim tem, no início, apoio dos jornais, mas, à medida que se evidencia onde tal autonomia e capacidade crítica poderiam chegar, passa a ser atacado, sobretudo por campanhas jornalísticas que pedem e conseguem seu afastamento do estado. A mutilação de inúmeros fatos que compõem esse complexo episódio e o silencia-merrto sobre o sucesso de Martim ao sair da Bahia afetaram profundamente a mentalidade da área teatral baiana.
Assinale-se ainda certo fervor sobre teatro nos anos 1960/1970, em revistas e nas TVs recém-criadas. Nos 1990, uma nova onda de profissionalização (ligada de forma trun-cada e mal compreendendo aquela primeira) promove duas especializações que colaboram para movimentar a cena: o produtor e o assessor de imprensa. No novo milênio, o tema teatro na Bahia procura fazer as pazes com o passado enquanto trafega pela internet.
Nenhum comentário:
Postar um comentário