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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

NÃO EXISTE HOMEM FORA DACULTURA

JOANA LOPO

De passagem por Salvador, o coordenador da ONG Observatório da Diversidade Cultural, o antropólogo mineiro José Márcio Barros, concedeu entrevista a A TARDE, no Pelourinho, onde participou do lançamento do Catálogo Culturas Populares e Identitárias. Barros expôs suas ideias sobre "a diversidade cultural de Salvador e suas disparidades".

ONG Observatório da Diversidade Cultural surgiu quando e com que objetivo? Criamos a ONG em 2005, exatamente quando acontecia, em Paris, uma assembléia da Unesco sobre os assuntos ligados à promoção da cultura. Nós queríamos acompanhar e discutir os possíveis resultados dessa convenção. O observatório atua em três linhas de atuação: a informação, a pesquisa e a linha de formação.

E o que é a diversidade cultural? A diversidade cultural não é a soma das nossas diferenças.

É a maneira que, a partir delas, sejam estabelecidas as trocas de experiências que promovam a paz, a riqueza cultural, o desenvolvimento econômico.

Não adianta só dizer que é a favor da diversidade tem de saber o que fazer com isso, melhor, a gente precisa saber como transformar nossas diferenças em diversidade e como transformar a sociedade.

Torná-la mais plural, que permita e estimule a interação entre as nossas diferenças, conferindo os mesmos direitos à todos.

Como você percebe essa diversidade no Brasil? A questão é a conjugação das diferenças com a igualdade.

Nosso país é cheio de exemplos de conjugação do contrário, em que as diferenças são sinônimo de desigualdade social. Temos uma riqueza cultural associada a muita pobreza. Perceba que estamos no Pelourinho, que tem uma grande riqueza cultural convivendo com a pobreza.

Quando a cultura é transformada só em atrativos para turistas, em eventos, apenas como souvenir para você levar como lembrança, ela acaba mantendo, ou pior, impedindo de vermos as desigualdades sociais.

E na Bahia? A singularidade da Bahia está exatamente na forma como as diferenças são expostas.

Existem riquezas culturais em todas as partes do Brasil, mas na Bahia essas diferenças são públicas, são perceptíveis a olho nu. Salvador tem uma disparidade incrível na questão sociocultural. Aqui se percebe a riqueza de expressões artísticas convivendo com a pobreza.

Você acha que existe uma elitização cultural no País? Olha, o maior exemplo disso é o de quem visita o Pelourinho, que percebe toda essa riqueza cultural e a realidade de quem mora e convive com a pobreza do local, experimentando situações de violência todos os dias. Muitas vezes a pluralidade cultural é usada como uma espécie de biombo que nos impede de ver essa diversidade, de como ela acaba se associando a uma desigualdade socioeconômica.

Quais os desafios do País em consolidar as políticas públicas voltadas à cultura ? O desafio é o de superar os abismos econômicos. Um país com tanta riqueza e criatividade precisa colocar esse poder cultural a serviço de um desenvolvimento humano. Devemos colocar a cultura no centro das políticas sociais. Perceber que a cultura é uma economia limpa e que pode desencadear processos econômicos que não agridam o meio ambiente.

Uma maior valorização da cultura traria que tipo de benefícios ao País? O campo da cultura trabalha diretamente com a inclusão social. É notório que não existem equipamentos nem máquinas que substitua o homem. É claro, nem seria possível porque o artístico não está no instrumento, está no artista, é a competência do artista que está em evidência. Por isso que a cultura deve estar num lugar mais central no modelo de desenvolvimento do País.

De que forma a diversidade cultural deve ser tratada pelos segmentos sociais? Deve-se articular a diversidade da cultura de forma transversal com as outras políticas públicas, como a saúde, o turismo e a comunicação.

A mídia, por exemplo, se trabalhar o assunto apenas de forma mercadológica, a diversidade cultural só vai aparecer como curiosidade ou excentricidade, cobrindo a Luciano da Matta / Ag. A TARDE / 28.10.2010 morte de um mestre de cultura popular ou o desabamento de algum casarão.

Falando emmídia, como você acha que os meios de comunicação devem tratar esse assunto? É preciso pensar na mídia como produção e circulação do significado das diferentes culturas, essencialmente as regionais. A mídia tinha que ser mais diversa, explorar mais a questão cultural do País.Teríamos que ter a regionalização da produção em todos os veículos de comunicação, e não só procurar focar nos eixos sul,sudeste.

É preciso publicar e colocar em circulação todas as questões que entornam a cultura.

E a internet, as mídias sociais, de que forma contribuem para a disseminação da cultura? Esses sistemas emergentes do mundo contemporâneo já funcionam numa lógica bem particular. Portanto, conseguem atender e responder a diversidade cultural. Ainda existem restrições para essas mídias, já que a internet continua muito cara. Mas, essas mídias são favoráveis a um modelo de comunicação diverso, mais aberto. A interatividade permite a troca, circulação e produção de informação.

Qual a responsabilidade dos artistas, inclusive dos regionais, em difundir a sua cultura? Muitos artistas regionais são reconhecidos sem precisar sair da sua terra. No entanto, os que saem e criam certa fama lá fora, devem retornar e criar um ciclo de interação entre a sua arte e a cultura local. O artista que ganha visibilidade tem o poder de divulgar, espalhar as riquezas regionais para não limitálas a uma determinada localidade.

Como você define a relação do homem com a cultura ? Não é possível pensar o ser humano fora da cultura.

Sua ausência na vida e no cotidiano de cada indivíduo coloca em risco não apenas repertório e formas de expressão artística, mas a própria condição humana.


A Tarde

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