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sábado, 27 de novembro de 2010

Afoxés são homenageados com livro, DVD e registro como patrimônio imaterial da Bahia



Evento do dia 30/11 encerra ações do Governo do Estado para o Mês da Consciência Negra, com lançamentos de livro e DVD sobre “Desfile dos Afoxés”, do CD “Corredor Midiático” e promove o registro oficial dos Afoxés como “Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia”.

Edificação que foi utilizada durante 100 anos por ricos comerciantes e chefes de estado recebeu rainhas e príncipes, e foi moradia oficial de governadores da Bahia por metade do século 20, o Palácio da Aclamação, localizado no Passeio Público, próximo ao Forte de São Pedro e Campo Grande, em Salvador, passa a ser palco nesta terça-feira, dia 30, às 8h30, de homenagem a uma das manifestações mais emblemáticas da cultura baiana, o “Desfile dos Afoxés”.

Vinculados às matrizes africanas e representantes máximos da cultura afro-descendente nas festas carnavalescas da Bahia, os Afoxés foram criados não somente por classes desprivilegiadas economicamente e excluídas socialmente, mas, por uma parte da sociedade baiana que traz na sua história a marca de quatro séculos de escravidão.

Assim, subvertendo o passado e afirmando um novo presente, nesta terça-feira, os representantes de 23 Afoxés de Salvador, de entidades do Programa Carnaval Ouro Negro, de estudiosos da cultura negra e ativistas do movimento negro na Bahia, além de músicos e grupos percussivos, estarão subindo os degraus do palácio que representou o poder na Bahia para serem homenageados, com solenidade de encerramento das ações do Governo do Estado da Bahia para o Mês da Consciência Negra.

Na oportunidade, o governador Jaques Wagner assinará a homologação do “Desfile dos Afoxés” que passará a ser, com decreto no Diário Oficial, um Patrimônio Imaterial da Bahia. A festa terá lançamentos de livro e DVD-documentário de 26 minutos contando com artigos inéditos, documentos antigos, fotos, depoimentos e imagens de carnavais, a história dessa importante manifestação cultural, além de lançamento do CD “Corredor Midiático”.

A iniciativa é da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA), através de três de suas quatro autarquias: o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), que escreveu artigos e produziu o dossiê que possibilita o registro dos Afoxés, a Fundação Pedro Calmon (FPC) que editou o livro e fará distribuição dos produtos por bibliotecas, e o Instituto de Radiodifusão do Estado (Irdeb) que gravou e editou imagens do DVD e produziu o CD. Estarão presentes no evento outras secretarias estaduais, como a Promoção da Igualdade, além do Conselho do Carnaval, vereadores, deputados estaduais e federais, integrantes de instituições públicas e privadas, empresários e carnavalescos.

“Carnaval do Pelô – Corredor Midiático 2010” - Gravado ao vivo, o CD “Carnaval do Pelô – Corredor Midiático” promove o Carnaval de Salvador e registra a capacidade técnica num novo patamar da engenharia dos espetáculos de rua. Segundo o secretário de Cultura do Estado, Márcio Meirelles, a homenagem e lançamentos são resultado dos esforços de quatro unidades da SecultBA o que evidencia a importância das parcerias e redes na implantação de políticas públicas. “O evento sintetiza pequena prévia de registro maior que gostaríamos de fazer dos 145 blocos de matriz africana que têm o apoio do Programa de Fomento Carnaval Ouro Negro”, avalia Meirelles. Para o secretário, a implantação do Ouro Negro possibilitou mudanças significativas na gestão dos blocos afros que passaram tanto tempo na invisibilidade. Já sobre o CD, Meirelles destaca que o “Corredor Midiático” retrata ambientes sonoros do Terreiro de Jesus, Centro Histórico de Salvador (CHS), durante o Carnaval 2010. “O Corredor resgata a memória musical brasileira a partir de registros in loco da sonoridade das festas populares da Bahia, apresentando recorte ímpar da expressão artística de nosso povo”, conclui.

BOXES explicativos opcionais:

DESFILE DOS AFOXÉSOs afoxés não sugiram de modo tão pacífico e somente lúdico como a maior parte da população baiana imagina. Foi necessária muita luta persistência, coragem, criatividade, e, principalmeente, amor às suas raízes culturais para que pudéssemos apreciar o Desfile dos Afoxés como o vemos hoje nas ruas durante o Carnaval de Salvador.

Os lundus, os batuques, os samba de roda, entre outras manifestações que traziam a riqueza da música, dança e, até, os costumes e símbolos religiosos de matrizes africanas para as ruas de Salvador, aparecem na historiografia desde o século 16 com a chegada à Bahia dos primeiros escravos negros vindos da África. Mas, mesmo passado 500 anos, a repressão a essa expressão cultural ainda é latente e rigorosa. Em 1905 o chefe da segurança pública do Estado estabelece decreto normativo considerando uma “ilegalidade apresentar-se e exibir-se nas ruas com costumes africanos com batuques”.

Até meados da década de 2000 os Afoxés também estavam alijados de exibir-se nas ruas nos horários considerados nobres para os desfiles do período carnavalesco nos circuitos do Campo Grande-Praça Castro Alves e Barra-Ondina. Novas políticas públicas capitaneadas pelo Governo do Estado estão permitindo mudar esse quadro e, entre elas, a política de inserção e apoio da SecultBa através do Carnaval Ouro Negro, com apoios financeiros, produção de catálogos, aumento da exibição dos desfiles em emissoras de TV, através da TVE e TV Brasil, estudos, pesquisas, livros e DVD-documentários, entre outros reconhecimentos, trazem essa manifestação para o verdaeiro locus cultural que merece como representante da cultura baiana.

Diversos autores e pesquisadores, ao longo do tempo, estudam, fotografam e refletem pesquisas sobre o Desfile dos Afoxés ou suas correlações culturais, como Manuel Querino, Nina Rodrigues, Donald Pierson, Pierre Verger, João José Reis, Sérgio Carrara, Ana Martins-Costa, entre dezenas de outros estudiosos e artistas.

Também chamado de candomblé de rua, por evidenciar e reconfigurar símbolos, posturas, cantos, ritmos, danças e outras manifestações religiosas trazidas por escravos negros, O Desfile dos Afoxés é caratecrizado pelo cortejo de rua que sai durante o carnaval. Em geral, os integrantes e fundadores de grupos de Afoxés do carnaval são vinculados a terreiros de candomblé. Os foliões têm consciência de grupo, de valores e hábitos que os distinguem de qualquer outro bloco. As principais características são as roupas, nas cores dos Orixás, as cantigas em língua Iorubá, instrumentos de percussão, atabaques, agogôs, afoxés e xequerês. O ritmo da dança na rua é semelhante ao executado nos terreiros, bem como a melodia entoada. Os cantos são puxados em solo, por alguém de destaque no grupo, e são repetidos por todos, inclusive os instrumentistas. Geralmente, antes da saída do grupo ocorre um ritual religioso.

Segundo as pesquisas do IPAC, o afoxé Embaixada da África foi a primeira manifestação negra a desfilar pelas ruas da Bahia, em 1885. Atualmente podem ser encontrados em Salvador, Feira de Santana, São Felix e nas cidades de Fortaleza, Recife, Olinda, Rio de Janeiro, São Paulo e Ribeirão Preto. Em 17 de novembro de 2008, a Associação Cultural Recreativa e Carnavalesca Filhos de Gandhy, encaminhou ao IPAC o pedido de inserção do segmento Afoxés no Livro de Registro Especial de Expressões Lúdicas e Artísticas. O governador Jaques Wagner, com base na lei n°. 8.895, de 16 de dezembro de 2003 (Decreto 10.039/2006), realizou Notificação Pública, no dia 16 de fevereiro de 2009, abrindo processo de Registro como Patrimônio Imaterial da manifestação denominada Desfile de Afoxés. Para atender esta solicitação, o IPAC elaborou o Dossiê sobre o Desfile de Afoxés, manifestação cultural que será inscrita no Livro Especial de Registro de Eventos e Celebrações. O dossiê compõe o Caderno do IPAC sobre os Desfiles dos Afoxés.

O Art. 41 da Lei 8.895/03 indica a necessidade de que os bens culturais protegidos pelo Registro Especial sejam “documentados e registrados a cada 05 (cinco) anos, sob responsabilidade do IPAC, por meio das técnicas mais adequadas às suas características, anexando-se, sempre que possível novas informações ao processo”, cabendo ao IPAC, portanto, promover sua “ampla divulgação e promoção, sob a forma de publicações, exposições, vídeos, filmes, meios multimídia e outras formas de linguagem promocional pertinentes, das informações registradas, franqueando-as à pesquisa qualificada.”

CORREDOR MIDIÁTICO - Em seu primeiro CD, o projeto “Corredor Midiático” 2010 organizado pelo Pelourinho Cultural, programa do IPAC/SecultBA, é resultado direto dos esforços do IRDEB junto ao resgate da memória musical brasileira. Criado com tecnologia itinerante e adaptável, o projeto parte para imersão nas raízes das manifestações culturais durante as festas, extraindo a sonoridade original dos grupos em seu habitat natural, sem cortes, coloridos ou adição de efeitos. Com a supervisão da diretoria de Música da Fundação Cultural do Estado – Funceb/SecultBA, esse projeto leva, pela primeira vez ao público, o registro da Troça Carnavalesca “Pai Burukô” do lendário Mestre Didi, um verdadeiro patrimônio da Bahia. Através da FPC este CD poderá alçar vôos ainda maiores, sendo parte do acervo de todas as bibliotecas do estado da Bahia, permitindo o acesso de todo o público, principalmente de jovens que anseiam por entrar em contato com suas raízes. Esse primeiro volume vai estimular também a iniciativa privada a descobrir as riquezas do nosso povo que passaram tanto tempo escondidas. O “Corredor Midiático” traz sonoridade das ruas e o governo estadual através da SecultBA cumpre o papel de proteger e difundir tais manifestações do esquecimento coletivo a que estavam sujeitas.

MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA - O mês da consciência negra envolve celebrações referentes ao dia 20 de novembro de 1695, quando foi morto o líder Zumbi, o rei do maior quilombo do país, o Quilombo dos Palmares, que chegou a representar 15% da população do Brasil. Os eventos são basicamente organizados por entidades da sociedade civil. Os apoios, pelo Governo do Estado, são estruturados a partir da SEPROMI.

PALÁCIO DA ACLAMAÇÃO – O Palácio da Aclamação teve até o início do século 20, metade da área construída que conhecemos hoje, pois foi casa de um comerciante português, edificada em 1894 afastada do centro fundacional da cidade para fugir das doenças infecto-contagiosas, ao lado do jardim botânico criado no início do século 19, ficando conhecida como Palacete dos Moraes. Em setembro de 1911 o governo estadual adquire o imóvel para transformá-lo em moradia dos governadores baianos. Em 1967, acontece a transferência da residência oficial para o Alto de Ondina e, em 1990, através do decreto nº4.148 o imóvel passa a ser administrado pelo IPAC. Hoje, é um importante espaço artístico com grandes exposições temporárias e sede da Diretoria de Museus do IPAC. O IPAC também elaborou o dossiê que deverá transformar o palácio em “Patrimônio da Bahia” através de decreto do governador que deve ser publicado até final deste ano (2010). Ao ser tombado o imóvel passa a ser oficialmente protegido, tendo controle do IPAC para que não seja descaracterizada sua arquitetura original. Responsável por administrar o palácio, o IPAC também executou obras de manutenção no prédio desde 2008 até maio deste ano (2010) somando R$ 1,6 milhão em investimentos. Com dois andares, anexos, jardins e acesso ao Passeio Público, a edificação tem elementos clássicos, com frontões triangulares e dentículos, formando um sincretismo estilístico que marca a arquitetura neoclássica. A decoração interna no estilo Luís 16 apresenta painéis emoldurados, guirlandas, laços e medalhões pintados pelo famoso pintor baiano Presciliano Silva. Seu acervo permanente é composto por mobiliário estilo D. José e Luís 15, porcelanas, cristais, bronzes, tapetes persas e franceses.


Assessoria de Comunicação – IPAC – em 26.10.2010
Jornalista responsável Geraldo Moniz (1498-MTBa) – (71) 8731-2641
Contatos ASCOM/IPAC: (71) 3116-6673, 3117-6490, ascom@ipac.ba.gov.br. Acesse: www.ipac.ba.gov.br

Assessoria de Comunicação - SecultBA
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