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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A ponte imaginária - Opinião - Josias Pires Jornalista, mestre em Artes Cênicas, diretor da série de TV “Bahia Singular e Plural”


A Tarde


Amudança de rumo operada no comando da política cultural baiana nos últimos quatro anos, em que pese a grita de alguns artistas e produtores, é auspiciosa na medida que representa o primeiro impulso no plano da gestão pública no sentido de retomada das forças criativas profundas marcantes da história cultural do Estado.

Devemos refletir sobre a condição contemporânea tendo em retrospecto a história das últimas décadas. A intensa produção artística que se realiza na Bahia nos anos de 1950 e início dos 60 é de tal monta que os seus pressupostos e significados precisam ser conhecidos pelas novas gerações.

Momento de estreito contato entre, por exemplo, a música de vanguarda europeia, eletrônica, dodecafônica com a música da capoeira. A dança contemporânea com o candomblé. Teatro de alta qualidade para multidões em salas lotadas. A busca por um design de características do popular brasileiro.

A criação do Museu de Arte Popular, do Museu de Arte Moderna, do Teatro Castro Alves ...

O golpe militar de 1964 fere de morte aquela energia criativa. Fosso. Começo do fim da ideia de revolução operada a partir do imaginário popular. A nova política pós-golpe – particularmente pós-68 – adota o princípio da mercantilização da cultura, liderada pelos empresários e planos estatais de turismo. Assistimos, então, à submissão de forças criativas populares aos “poderosos” de plantão. Toda aquela experiência cintilante e recente foi se perdendo na lata de lixo da história.

A imagem da ponte. O escritor e crítico de cinema Jean-Claude Bernadet escreve o texto “Vitória sobre a lata de lixo da história (Cabra Marcado para Morrer)”, de Eduardo Coutinho, filme que, diz ele, faz a ponte sobre o fosso criado no País pelo golpe militar. O filme recupera para a história pessoas que participaram do Cabra original, interrompido pelo golpe.

Na Bahia dos anos 50 e meados dos 60 havia uma inteligência fina, sensível que se constitui lá pela década de 1920, no início da atuação do educador Anísio Teixeira, responsável pela formação da rede de ensino público da Bahia, que concebe um sistema educacional cujo foco é a escola pública de qualidade e ensino integral.

Cultura e educação são de longa maturação, a semeadura pelos campos deve ser constante a cada estação. Todos os artistas geniais que nascem nos anos 40 e 50 estudam em escolas públicas, algumas de alto nível, como as Escolas de Aplicação. Ao lado de Anísio Teixeira articulam-se planejadores do Escritório de Planejamento Urbano da Cidade de Salvador (Epucs) e criam o conceito da Escola Parque, absolutamente integrada no local onde está situada. Projeto visionário, atualíssimo. Os conhecimentos atuam de modo articulados.

O espetáculo Ópera dos três vinténs, de Brecht, foi encenado no Teatro Castro Alves (1960) pós incêndio: os atores eram da Escola de Teatro, a música feita pelos estudantes da Escola de Música e o cenário fabricado pelos da Escola de Belas Artes. A articulação interinstitucional é uma das chaves para o sucesso das políticas públicas, sejam elas na área da cultura ou das políticas sociais.

No governo Wagner ocorreu algo absolutamente indispensável: a democratização do acesso aos meios de produção cultural, abrindo acesso ao fundo de cultura robustecido com novas receitas. Cabe agora aprofundar, inclusive no sentido de dotar o Estado de musculatura e capacidade de interferir na realidade de modo coeso e eficaz, favorecendo o fortalecimento da produção e difusão cultural. Para além dos editais – política consolidada – cabe afinar a orquestra no sentido de obter políticas públicas articuladas e capazes de induzir transformações profundas.

A função do Estado é muito mais do que regular querelas dos mercados e aquecer alguns negócios com dinheiro público. O Estado tem papel central como indutor de processos os mais diversos. Cabe ter compreensão histórica adequada para perceber quais desses processos específicos no interior da sociedade devem ser empoderados e repercutir suas expressões socioculturais para todo o mundo.
A função do Estado é muito mais do que regular querelas dos mercados e aquecer alguns negócios com dinheiro público

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