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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Visitei a Bahia nos livros de Jorge Amado. Amei a cidade

Eduarda Uzêda - O escritor italiano Fabio Stassi está em Salvador pela primeira vez.

Nascido em Roma,mas de origem siciliana, ele é a principal atração da X Settimana della Língua Italiana nel Mondo, promoção do Instituto de Letras da Ufba, que teve abertura ontem e prossegue hoje e amanhã,no Campus de Ondina. Fabio Stassi é autor de obras como Fumisteria (Premio Vittorini Opera Prima 2007) e È finito il nostro Carnavale (Acabou o nosso Carnaval), livro que recebeu grande destaque da crítica italiana e que lança olhar sobre as dita durassul-americanas dos anos1970,o Brasil e a Bahia.Também escreveu La rivincita di Capablanca (A Revanche de Capablanca), contemplada com os prêmios Palmi e Coni de narrativa esportiva, em 2009. Este ano, o escritor lançou Holden , Lolita, Zivago e gli altri: Piccola Enciclopedia dei personaggi letterari (1946-1999) (Holden, Lolita, Zivago e outros: Pequena enciclopédia de personagens literários (1946-1999), que, entre outros, destaca personagens da obra do escritor baiano Jorge Amado. Hoje, às 14 horas, no PAF III, Sala 210, ele realiza uma oficina de escrita com os estudantes. Amanhã, às 18h30, no auditório do PAF III, em Ondina, acontece o grande momento: Fabio faz palestra sobre o tema As Línguas Salvas e a Geografia do Sangue. Nesta entrevista exclusiva, por email , ele falou de sua obra e de sua relação com o Brasil e a Bahia. Confira os principais trechos.
Como surgiu o convite para participar da X Settimana della Lingua Italiana nel Mondo? Vir ao Brasil foi sempre um sonho que não acreditava que se pudesse realizar. O professor Raoul Poleggi (professor leitor da Ufba), meu amigo fraterno, propôs o meu nome conhecendo a fundo os meus livros e a minha história. Com surpresa, há algumas semanas também, recebi convite do Instituto de Cultura do Rio de Janeiro e comecei imediatamente o trabalho para buscar poder dar minha pequena contribuição para estes eventos.
O senhor afirmou que "não se cresce em um lugar, se cresce em uma língua". Que significa, para o senhor, crescer no dialeto siciliano? Tenho sempre sustentado que a língua que se aprende criança, durante a infância, será decisiva depois, na construção de uma ideia do mundo.

Será o som originário que tomamos para todas as coisas.

Para mim,aquele som foi o siciliano, uma língua muito musical e, da minha parte, da Sicília ocidental, eu diria muita similar ao português. Estou seguro que, antes de se transformar em matéria, o universo fosse um alfabeto.

São as estrelas que explodiram neste big bang que criaram o mundo e todas as suas línguas.
O senhor falou em dialeto até os seis anos, depois foi escolarizado em italiano. Qual o significado disto em sua vida? Foi a primeira experiência de estranheza, de não pertencer fisicamente a um lugar, de estar fora. Eu vinha da Sicília, falava em siciliano, mas não vivia na Sicília. Em Roma, na escola, me senti como um estrangeiro.

E como estrangeiro devia confrontar os meus companheiros: fui alvo de zombaria, ridicularizado, depois me inseri.
Por que o senhor começou a escrever? Como foi sua relação com os dialetos? Meparece ter escrito sempre.

Me agradaria ter me tornado ummúsico, mas me saio melhor com as palavras. Talvez se comece a escrever porque algumas emoções são muito grandes para serem contidas apenas no silêncio. O primeiro tema que recordo foi o dia depois de uma nevada em Roma.Nunca tinha visto neve e para a cidade era um fato extraordinário. Escrevi uma poesia também no dia da morte de Louis Armstrong.

Todos os dialetos me interessam sempre: representam a riqueza, a variedade e a complexidade da experiência humana.

São como os povos que têm riscos de extinção, mas que devemos tutelar. Tenho medo que, se perdermos as palavras, perderemos também seus significados.
É a primeira vez que vem a Salvador? Que pensa de nossa cidade, da nossa gente? Sim, é a primeira vez. Mas talvez poderia dizer que já estive aqui.Visitei a Bahianos livros de Jorge Amado. Amei a cidade e a reconheci como se estivesse aqui nascido. O povo brasileiro, para mim,representa a ideia de um futuro possível, um futuro que me agrada, um tempo de mistura e paz.
O senhor escreveu o livro Acabou o nosso Carnaval, que obteve muita atenção por parte da imprensa italiana (o livro, aborda, entre outros fatos, as ditaduras sul-americanas dos anos 70, a morte de Carlos Marighella, em São Paulo,além do futebol de Garrincha e Pelé, passando pelas canções de Tom e Vinicius de Morais). O protagonista é um homem que roubou a Taça Jules Rimet, o primeiro troféu do campeonato mundial de futebol. Por que escolheu este tema para falar de subversão e esperança? O futebol é uma metáfora universal como o jogo de xadrez.

Dentro há tudo: a épica da derrota, a graça, o infortúnio, o erro, a bendição do destino, a esperança, a disputa...

Há também a perda da poesia nos últimos anos como um roubo. Para mim, a Taça Rimet é o símbolo de tudo isto.
O senhor fez uma profunda pesquisa sobre o Brasil e também sobre outros países. Hemingway, Emiliano Zapata, Hitler, Maigret, Django Reinhardt e também Vicente Feola, Leônidas e Garrincha revivem nas páginas do seu livro com realismo.

A bossa nova também é presente e não falta um olhar especial sobre a Bahia. Como fez esta profunda pesquisa sobre o Brasil e a Bahia? É mesmo verdadeiro aquilo que disse Garcia Márquez: para escrever um livro,ao menos outros duzentos. Eu procurei ler tudo que pude. Tive sempre um grande amor pela pesquisa histórica: estudei história do Ressurgimento na universidade e acabei por trabalhar em uma biblioteca de história contemporânea [Fabio Stassi trabalha em Roma, na Biblioteca Universitária Federico Chabod].
O que o senhor pensa da literatura atual? Que escritores italianos e brasileiros o senhor admira profundamente? Admiro muitos escritores, que seria muito longo enumerar todos.No passado, Italo Calvino, Primo Levi, Leonardo Sciascia, Gesualdo Bufalino, MarioRigoniStern, Luciano Bianciardi entre os italianos; Jorge Amado, Machado de Assis, Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes entre os brasileiros. Entre os contemporâneos, os primeiros nomes que me vêm aos lábios são Tabucchi, Andrea Bajani, Milton Hatoum, Jô Soares e Chico Buarque.
O senhor disse que a sua relação com o Brasil nasceu da música e dos livros. Pode falar sobre este argumento? Amei a música brasileira desde a primeira vez que a escutei.

Correspondia a uma ressonância interior, um misto de alegria e tristeza que chamamos talvez de melancolia.

Por algum tempo estudei violão na embaixada de Roma. Me fascina a construção harmônica das canções, o uso da escala cromática e descendente, os acordes e também o modo de cantar com um fio de voz... É a minha ideia de elegância, e vale por tudo, também para a literatura.

Por um período da minha vida, não me parece ter feito outra coisa do que tocar aquela música e respirar os livros,que procurava em cada livraria de Roma.
Este ano, o senhor publicou o livro Holden, Lolita, Zivago e os outros: Pequena enciclopédia de personagens literários (1946-1999). Pode falar desta obra, em que há personagens de Jorge Amado, como Dona Flor, Vadinho e Gabriela? Este último livro é para mim muitas coisas. Mas é sobretudo uma carteira de identidade.

Somos feitos dos livros que lemos, assim como das pessoas que conhecemos.

É um livro do qual eu tenho um grande pudor porque, dentre as vozes de tantos personagens, eu escondi a minha. Nesta série de retratos de personagens (são 200 ao todo),no fim, sabendo ler, sou eu que me desnudo.

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