Ana Paula Sousa - Inspirada no que faz o mercado norte-americano, a distribuidora Imagem Filmes levou, no final de semana, donos de cinema, jornalistas, diretores, produtores e atores para o resort Costão do Santinho, em Santa Catarina.
A empresa usou o cenário paradisíaco para emoldurar sua nova estratégia comercial. Tradicionalmente apoiada em títulos estrangeiros, em 2011, apostará várias fichas no cinema nacional.
E, se a cruzada verde e amarela chama a atenção, é, sobretudo, porque há outras empresas a segui-la. A Downtown, criada exclusivamente para lançar títulos nacionais, estreará, entre 2011 e 2013, seis filmes por ano.
A empurrar a essa ofensiva, aparece o governo. Em 2010, foram injetados R$ 30 milhões na distribuição.
Cena do inédito "Capitães de Areia", de Cecília Amado
Dentre as muitas marcas batidas por "Tropa de Elite 2", há uma que carrega, em si, uma das grandes contradições do cinema brasileiro: vão sempre parar nos cofres das subsidiárias de Hollywood os cifrões gerados pelos sucessos nacionais.
Filmes como "Se Eu Fosse Você" e "Dois Filhos de Francisco" foram postos no mercado com o logotipo de grupos como Sony e Fox.
A razão para tal fenômeno tem origem num mecanismo de incentivo fiscal: o Artigo 3º da Lei do Audiovisual.
O "artigo 3º" -tratado assim, com intimidade, pelo mercado de cinema brasileiro- permite que as empresas estrangeiras apliquem em produções nacionais parte do imposto que deve ser pago no momento da remessa de lucros para o exterior.
E foi assim, com financiamento público, que as majors passaram a se associar aos filmes brasileiros.
Mas o que parecia louvável foi se tornando excessivo e, então, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) resolveu criar políticas capazes de estimular certas peças a se moverem nesse jogo.
Essa política, que começou a ser desenhada em 2005, deu origem, primeiro, ao Prêmio Adicional de Renda, que beneficia as distribuidoras brasileiras.
A partir de 2006, o BNDES passou a investir em Funcines (fundos de investimento voltados ao audiovisual) e priorizou os que fossem focados em distribuição.
Por fim, veio o Fundo Setorial do Audiovisual, que inclui duas linhas de apoio à distribuição e disponibilizou R$ 10 milhões em 2009 e R$ 22,4 milhões neste ano.
Somados todos os recursos, a Ancine colocou, em distribuição, cerca de R$ 30 milhões em 2010. Em 2004, não havia um só tostão público nesse segmento da chamada cadeia do cinema.
Foco Nacional
"Conseguimos atrair todas as distribuidoras independentes para o filme brasileiro", diz Manoel Rangel, presidente da Ancine. "Algumas empresas passaram a ter o filme brasileiro como seu produto principal. Já as majors sempre terão como prioridade o produto da matriz."
Bruno Wainer, o primeiro a apostar nos nacionais, com a Downtown ("Chico Xavier"), diz, sem desconsiderar a importância dos estímulos, que a mudança de rumo foi determinada, também, pelo contexto mundial.
"O mercado independente mundial está em crise. O cinema brasileiro passou a ser alternativa para as empresas que trabalhavam com independentes estrangeiros."
Abrão Scherer, da Imagem, diz que não. Segundo ele, a aposta tem mais a ver com o potencial do cinema brasileiro do que com a falta de opções estrangeiras.
Folha de São Paulo
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