Intercâmbio Trienal de Luanda recebe obras de 22 artistas da Bahia no projeto 3 Pontes, que pode desembarcar em Salvador em 2011
Salvatore Carrozzo - Uma ponte entre Salvador e Luanda, capital de Angola, teria de atravessar o Oceano Atlântico por quase seis mil quilômetros.
Muito mais fácil, portanto, é construir uma ligação simbólica. Esse é o intuito do projeto 3 Pontes, que exibe obras de 22 artistas baianos dentro da programação da II Trienal de Luanda, considerada o principal evento voltado à arte contemporânea na África.
A seleção é ampla e inclui pinturas, vídeos,exibição de filmes, fotografias, intervenções urbanas e performances. A lista de baianos cujas obras desembarcaram além-mar inclui nomes como Marepe, Mario Cravo Neto, Christian Cravo, Glauber Rocha, Ayrson Heraclito, Caetano Dias, Gaio Matos e Virgínia de Medeiros.
Os principais jornais angolanos ressaltam a importância do projeto, dividido em diversos espaços da cidade. Daniel Rangel, curador da mostra e diretor de museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) classifica a receptividade como excelente.
Para Rangel, os angolanos tinham uma idéia estereotipada da Bahia e da atual produção cultural no Estado, em parte influenciada pelos livros de Jorge Amado e ilustrações de Carybé.
“Mas é possível reformular conceitos por meio da arte contemporânea”, afirma ele. O curador cita, como exemplo, a obra Divisor, de Ayrson Heráclito. Nela, água e azeite de dendê (ou óleo de palma, em Angola), substâncias que não se misturam, fazem referência a conceitos como geografia e raça. “Heráclito ressignifica o legado, a tradição deixada na Bahia”, diz Rangel.
Para a escritora Goli Guerreiro, os angolanos (“ávidos por informação após séculos de colonização e guerras”) mostram se curiosos com a arte baiana. “Eles têm essa sensação de familiariade ao ver as obras”, comenta Goli, convidada pela mostra para lançar os dois livros da série Terceira Diáspora – que, entre outros assuntos, aborda o atual momento de trocas entre Brasil e África. Nesse quesito, Marepe acredita que a arte é uma excelente forma de estreitar tais laços. “É uma linguagem universal”, define o premiado artista, que já participou das Bienais de Veneza e São Paulo.
Já para a artista Ana Dumas, a inspiração de seu trabalho veio dos vendedores de café que circulam pelas ruas de Salvador, empurrando coloridos carrinhos cheios de garrafas térmicas.Ana levou para Angola seu “carrinho multimídia”,que funciona como uma verdadeira galeria ambulante e serve de suporte para intervenções sonoras por meio de músicas, discotecagens e também falas.
“Jovens angolanos que estavam na galeria quebraram o protocolo, pegaram o microfone e começaram a cantar e dançar espontaneamente”, diz a artista Ana Dumas sobre ohappening em Angola.
Registros de causos, contos e histórias do sertão baiano colhidos in loco deram origem à instalação Fala dos Confins, da artista Virgínia de Medeiros, que também utilizou uma música de Lucas Santtana. Para a Trienal, Virgínia colocou a obra dentro de um candongueiro (van utilizada como transporte público em Luanda) estacionado em frente a uma galeria. No pára-brisa do veículo foram projetadas imagens captadas por Virgínia, que rodou o sertão em uma kombi.”Na África,também existe uma oralidade que é próxima à da Bahia, até na cadência e no jeito de alongar as palavras”, observa a artista.
Grandiosidade A mostra 3 Pontes é uma das maiores do gênero envolvendo artistas visuais brasileiros na África – continente que foi tema de exposições nos últimos anos em Salvador, como, por exemplo, a Mostra Pan-Africana de Arte Contemporânea e as mostras Luanda – Suave e Frenética I e II. A mostra 3 Pontes pode desembarcar na capital baiana em 2011.
A exposição baiana em território angolano foi aberta no último dia 25 e segue até dia 19 de dezembro. A mostra é fruto de ações da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, doMuseu de Arte Moderna da Bahia e da Fundação Sindika Dokolo (Angola), com o patrocínio da Odebrecht.
Muito mais fácil, portanto, é construir uma ligação simbólica. Esse é o intuito do projeto 3 Pontes, que exibe obras de 22 artistas baianos dentro da programação da II Trienal de Luanda, considerada o principal evento voltado à arte contemporânea na África.
A seleção é ampla e inclui pinturas, vídeos,exibição de filmes, fotografias, intervenções urbanas e performances. A lista de baianos cujas obras desembarcaram além-mar inclui nomes como Marepe, Mario Cravo Neto, Christian Cravo, Glauber Rocha, Ayrson Heraclito, Caetano Dias, Gaio Matos e Virgínia de Medeiros.
Os principais jornais angolanos ressaltam a importância do projeto, dividido em diversos espaços da cidade. Daniel Rangel, curador da mostra e diretor de museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) classifica a receptividade como excelente.
Para Rangel, os angolanos tinham uma idéia estereotipada da Bahia e da atual produção cultural no Estado, em parte influenciada pelos livros de Jorge Amado e ilustrações de Carybé.
“Mas é possível reformular conceitos por meio da arte contemporânea”, afirma ele. O curador cita, como exemplo, a obra Divisor, de Ayrson Heráclito. Nela, água e azeite de dendê (ou óleo de palma, em Angola), substâncias que não se misturam, fazem referência a conceitos como geografia e raça. “Heráclito ressignifica o legado, a tradição deixada na Bahia”, diz Rangel.
Para a escritora Goli Guerreiro, os angolanos (“ávidos por informação após séculos de colonização e guerras”) mostram se curiosos com a arte baiana. “Eles têm essa sensação de familiariade ao ver as obras”, comenta Goli, convidada pela mostra para lançar os dois livros da série Terceira Diáspora – que, entre outros assuntos, aborda o atual momento de trocas entre Brasil e África. Nesse quesito, Marepe acredita que a arte é uma excelente forma de estreitar tais laços. “É uma linguagem universal”, define o premiado artista, que já participou das Bienais de Veneza e São Paulo.
Já para a artista Ana Dumas, a inspiração de seu trabalho veio dos vendedores de café que circulam pelas ruas de Salvador, empurrando coloridos carrinhos cheios de garrafas térmicas.Ana levou para Angola seu “carrinho multimídia”,que funciona como uma verdadeira galeria ambulante e serve de suporte para intervenções sonoras por meio de músicas, discotecagens e também falas.
“Jovens angolanos que estavam na galeria quebraram o protocolo, pegaram o microfone e começaram a cantar e dançar espontaneamente”, diz a artista Ana Dumas sobre ohappening em Angola.
Registros de causos, contos e histórias do sertão baiano colhidos in loco deram origem à instalação Fala dos Confins, da artista Virgínia de Medeiros, que também utilizou uma música de Lucas Santtana. Para a Trienal, Virgínia colocou a obra dentro de um candongueiro (van utilizada como transporte público em Luanda) estacionado em frente a uma galeria. No pára-brisa do veículo foram projetadas imagens captadas por Virgínia, que rodou o sertão em uma kombi.”Na África,também existe uma oralidade que é próxima à da Bahia, até na cadência e no jeito de alongar as palavras”, observa a artista.
Grandiosidade A mostra 3 Pontes é uma das maiores do gênero envolvendo artistas visuais brasileiros na África – continente que foi tema de exposições nos últimos anos em Salvador, como, por exemplo, a Mostra Pan-Africana de Arte Contemporânea e as mostras Luanda – Suave e Frenética I e II. A mostra 3 Pontes pode desembarcar na capital baiana em 2011.
A exposição baiana em território angolano foi aberta no último dia 25 e segue até dia 19 de dezembro. A mostra é fruto de ações da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, doMuseu de Arte Moderna da Bahia e da Fundação Sindika Dokolo (Angola), com o patrocínio da Odebrecht.
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