Carlos Souza - A tradição literária da Bahia, iniciada em Manuel da Nóbrega, que aqui escreveu a primeira obra pátria, adensada por próceres como Gregório de Mattos e Ruy Barbosa, culminada em Jorge Amado e Dias Gomes, entre tantos outros, já foi correspondida por amplo mercado livreiro (13 livrarias em 1890, quando a população era 10 vezes menor do que na atualidade) e editoras com projeção nacional, como a Catilina e a Progresso, de Pinto de Aguiar.
Infelizmente, trata-se de um quadro do passado, bem distante, lá se vão 50 anos do encerramento de ambas as editoras. Hoje, livrarias são sucessivamente fechadas, como os recentes e emblemáticos casos da Distribuidora Salvador e da Civilização Brasileira.
As editoras privadas estão à míngua, nenhuma tem distribuição nacional efetiva nem destaque no promissor mercado de e-book. De nossos autores, poucos conseguem ser publicados por grandes editoras.
De tais afortunados, apenas João Ubaldo vive de literatura. João José Reis, Ruy Espinheira Filho, Jean Wyllys, Aleilton Fonseca, José Inácio, Mayrant Gallo têm destaque, mas nada comparado aos áureos tempos.
O Estado tem inovado em políticas públicas para o setor, através da Secult, patrocinando o Vão das Letras, no TCA, a participação em bienais no Sul, novos editais, mais modernos, mais efetivos, voltados para a profissionalização, além de estabelecer um diálogo permanente com o setor. O Ministério da Cultura também tem ajudado, disponibilizando recursos para aquisição de acervo. Editores como Rosel Bonfim, da Casarão do Verbo, de Anagé, Agenor Gaspareto, da Via Litterarum, de Itabuna, Dhan Ribeiro, da Kalango, de Simões Filho, e Valéria Pergentino, da Solisluna, de Lauro de Freitas, contra as muitas adversidades, vêm ganhando escala, embora ainda não tenham atingido plenamente a tão almejada distribuição nacional. Estes e alguns outros são responsáveis pela revelação de novos talentos baianos.
No campo das livrarias, Jhana Livros, Livrarias Aeroporto e Rodoviária, Midialouca, LDM e Galeria do Livro destacam-se, todas elas geridas por diletantes e abnegados empreendedores locais. Representam o contraponto às grandes redes, como a Saraiva, onde a produção local tem pouco espaço. No entanto, o número de livrarias em Salvador é insuficiente e no interior é quase zero. Centros importantes, como Ilhéus, não possuem uma única livraria de bom porte. O baiano, em geral, pouco lê. Há poucos leitores porque há poucas livrarias, e há poucas livrarias porque há poucos leitores.
Nas bibliotecas, quase nada chega da produção baiana. A primeira aquisição de acervo baiano para elas está ocorrendo agora, processo ainda não finalizado. Se isso não bastasse, são aquelas, via de regra, pouco frequentadas.
Nem as pouco mais de 800 bibliotecas escolares, defasadas em acervo, atraem os estudantes, talvez porque estes demandem livros que falem da realidade deles, que falem da Bahia, e estes lá não há.
A esperança está na rápida substituição do livro em papel pelo livro digital. Digo rápida porque o livro impresso tem um sério problema de escala. Tiragens baixas aumentam muito o custo por unidade. O livro digital, para internet, e-reader ou ipad, não tem esse problema. A distribuição, mundial, é muito simples: basta montar um site, divulgar nas redes sociais ou enviar para um portal de vendas já existente (eles aceitam tudo, pois nada gera custo de estoque físico).
Ocorrerá com a literatura o que houve com a música na transição do LP de vinil para o CD e outras mídias digitais: todos poderão, a baixo custo e sem seleção prévia, expor-se à luz. A comparação nos é favorável, pois muitos dos grupos e artistas musicais baianos atualmente fazendo sucesso ganharam tal projeção graças à facilidade do meio digital.
Bem, pelo menos nos resta essa esperança.
Transformá-la em contraponto à anemia da edição impressa em nosso estado só depende da criatividade de nossos autores e editores.
A porta está novamente aberta. Cabe a nós aproveitar a oportunidade e reafirmar, com novas obras, novos autores, a melhor tradição literária do Brasil, a tradição de Manuel da Nóbrega e Dias Gomes.
Ocorrerá com a literatura o que houve com a música na transição do LP de vinil para o CD e outras
mídias digitais
Infelizmente, trata-se de um quadro do passado, bem distante, lá se vão 50 anos do encerramento de ambas as editoras. Hoje, livrarias são sucessivamente fechadas, como os recentes e emblemáticos casos da Distribuidora Salvador e da Civilização Brasileira.
As editoras privadas estão à míngua, nenhuma tem distribuição nacional efetiva nem destaque no promissor mercado de e-book. De nossos autores, poucos conseguem ser publicados por grandes editoras.
De tais afortunados, apenas João Ubaldo vive de literatura. João José Reis, Ruy Espinheira Filho, Jean Wyllys, Aleilton Fonseca, José Inácio, Mayrant Gallo têm destaque, mas nada comparado aos áureos tempos.
O Estado tem inovado em políticas públicas para o setor, através da Secult, patrocinando o Vão das Letras, no TCA, a participação em bienais no Sul, novos editais, mais modernos, mais efetivos, voltados para a profissionalização, além de estabelecer um diálogo permanente com o setor. O Ministério da Cultura também tem ajudado, disponibilizando recursos para aquisição de acervo. Editores como Rosel Bonfim, da Casarão do Verbo, de Anagé, Agenor Gaspareto, da Via Litterarum, de Itabuna, Dhan Ribeiro, da Kalango, de Simões Filho, e Valéria Pergentino, da Solisluna, de Lauro de Freitas, contra as muitas adversidades, vêm ganhando escala, embora ainda não tenham atingido plenamente a tão almejada distribuição nacional. Estes e alguns outros são responsáveis pela revelação de novos talentos baianos.
No campo das livrarias, Jhana Livros, Livrarias Aeroporto e Rodoviária, Midialouca, LDM e Galeria do Livro destacam-se, todas elas geridas por diletantes e abnegados empreendedores locais. Representam o contraponto às grandes redes, como a Saraiva, onde a produção local tem pouco espaço. No entanto, o número de livrarias em Salvador é insuficiente e no interior é quase zero. Centros importantes, como Ilhéus, não possuem uma única livraria de bom porte. O baiano, em geral, pouco lê. Há poucos leitores porque há poucas livrarias, e há poucas livrarias porque há poucos leitores.
Nas bibliotecas, quase nada chega da produção baiana. A primeira aquisição de acervo baiano para elas está ocorrendo agora, processo ainda não finalizado. Se isso não bastasse, são aquelas, via de regra, pouco frequentadas.
Nem as pouco mais de 800 bibliotecas escolares, defasadas em acervo, atraem os estudantes, talvez porque estes demandem livros que falem da realidade deles, que falem da Bahia, e estes lá não há.
A esperança está na rápida substituição do livro em papel pelo livro digital. Digo rápida porque o livro impresso tem um sério problema de escala. Tiragens baixas aumentam muito o custo por unidade. O livro digital, para internet, e-reader ou ipad, não tem esse problema. A distribuição, mundial, é muito simples: basta montar um site, divulgar nas redes sociais ou enviar para um portal de vendas já existente (eles aceitam tudo, pois nada gera custo de estoque físico).
Ocorrerá com a literatura o que houve com a música na transição do LP de vinil para o CD e outras mídias digitais: todos poderão, a baixo custo e sem seleção prévia, expor-se à luz. A comparação nos é favorável, pois muitos dos grupos e artistas musicais baianos atualmente fazendo sucesso ganharam tal projeção graças à facilidade do meio digital.
Bem, pelo menos nos resta essa esperança.
Transformá-la em contraponto à anemia da edição impressa em nosso estado só depende da criatividade de nossos autores e editores.
A porta está novamente aberta. Cabe a nós aproveitar a oportunidade e reafirmar, com novas obras, novos autores, a melhor tradição literária do Brasil, a tradição de Manuel da Nóbrega e Dias Gomes.
Ocorrerá com a literatura o que houve com a música na transição do LP de vinil para o CD e outras
mídias digitais
A Tarde
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